quarta-feira, outubro 11, 2006

dia em cheio

Estar de férias e assistir a profundas mudanças na sociedade portuguesa é deveras gratificante! Se não vejamos:
1 - O sr. presidente da república, promovendo o seu "roteiro para a inclusão", disse hoje que as prostitutas - "mulheres que têm por actividade laboral a satisfação dos impulsos sexuais dos homens sem escrúpulos", "mulheres da vida", "profissionais do sexo" "meretrizes", "cortesãs", "vagabundas", "putas" - podem manter a esperança e que existem associações que as podem ajudar (http://sic.sapo.pt/online/noticias/pais/20061010_Roteiro+para+a+Inclusao.htm). Ora, vivemos numa economia de mercado em que vigora a "lei da oferta e da procura", pelo que o fornecimento do bem (prestação de serviço) terá sempre mercado assegurado, desenrolando-se o trivial processo concorrencial (relação qualidade-preço). No entanto, estamos perante uma profissão que não é tributada, não é reconhecida enquanto profissão, não procedem as profissionais a descontos para a segurança social, tal como os advogados, médicos, consultores, entre outras profissões liberais. Pergunto como será uma entrevista de emprego para uma ex-prostituta:
- Dr. Aurélio: Ora como tem passado a D. Maria?
- D. Maria: Bem obrigado!
- Dr. Aurélio: Vou-lhe fazer umas questões acerca das suas expectativas e experiência profissional. Então onde trabalhava antes?
- D. Maria: ...................
Apesar da degradante profissão, do cariz inumano, julgo que a "mais velha profissão do mundo" deve ser regulamentada, a bem de um controlo sanitário, a bem de uma integração social, a bem de um enquadramento económico, a bem destas mulheres de vida difícil.
Remate: se perguntarmos a uma criança se quando for grande quer ser prostituta, ela dirá que não! se perguntarmos a uma criança se quando for grande quer ser coveiro, ela dirá que não!
São profissões que ninguém quer exercer, apesar de lidarem ambas com corpos e almas mortas. Mas mesmo assim, existem, só que estes últimos são funcionários públicos e as outras não são reconhecidas como profissão.

2 - O mister José Couceiro redimiu-se e os seus pupilos venceram a equipa russa por três secos.
Remate: José Couceiro pensa - ufa, desta safei-me!

3 - O Movimento de Intervenção e Cidadania (MIC) - grémio apartidário assente nos princípios da candidatura do Grão Mestre Poeta Alegre - foi hoje apresentado oficialmente, com direito a website e tudo.
Remate: Vamos contar os dias para os ver de babete a comentar a actualidade política.

4 - Segurança Social - novo acordo em concertação social - pois que hoje os galifões do costume (governantes, patrões e a UGT) assinaram um pacto de regime, para emagrecer as reformas futuras da actual população activa: passar a ser a média da carreira contributiva e não a dos últimos anos parece ser boa ideia; a história do
factor de sustentabilidade (adequação da idade de reforma ao aumento da esperança média de vida), parece ser boa ideia. Ora, é tudo muito bonito, mas... então e a correcção monetária? Os salários auferidos hoje, daqui a trinta anos, com a inflação a 3% e aumentos inferiores a esta, serão insignificantes? Então e se a esperança média de vida descer (guerras, tuberculoses, pandemia da gripe das aves, qualquer factor de sustentabilidade malthusiano...), a idade da reforma também desce?
Remate: Não morremos todos e o Sócrates vai para o Quénia.

E assim vai este pequeno país à beira mar plantado, rumo ao desenvolvimento e à civilização.

PS. por falar em MIC. MIC
-MIC

5 Comments:

At 6:01 da tarde, Blogger João Dias said...

Bem a dissertação sobre o ofício do sexo está...divinal.
Repare-se que as pessoas dizem não querer enveredar pela profissão, mas as mesmas facilmente se gabariam de já ter recorrido aos serviços.
A condenação da prostituição parte de um princípio moral de que o sexo não devia ser um serviço comercializável, aliás nem devia ser um serviço, mas pagamos para sobreviver...e isso ninguém estranha.
Mas os moralismos pessoais não deviam interferir nestas matérias e a prostituição devia ser legalizada pelas razões já indicadas no post e porque é uma forma que salvaguardar a liberdade do indivíduo, quer porque deixa o/a profissional liberta do submundo da criminalidade , quer porque o Estado assume o papel que lhe compete, salvarguardar os direitos de todos, retirando eventualmente direitos aos criminosos, mas aqui ninguém fala de crime....

 
At 10:47 da tarde, Blogger botadeelastico said...

De facto, falhou a referência criminal em torno do fenómeno da prostituição. Por um lado, a prostituição não é uma actividade ilícita objecto quer de criminalização nem do ponto de vista contra-ordenacional. No entanto, em seu torno gira uma panóplia de crimes - lenocínio, tráfico de seres humanos, extorsão, corrupção (desportiva), etc.
Ora, ao regulamentar a prostituição enquanto profissão, com direitos, deveres, é amplamente reduzida (pena que não erradicada) a criminalizada associada - a ocasião aproveita ao ladrão. Igualmente será propiciada àquelas (e àqueles) que, de modo a garantirem a sua subsistência económica, quer por opção pessoal (poucos) quer por indução social, enveredaram por esta actividade, uma panóplia de direitos (assistência médica, prestações sociais, reformas...) e acesso a uma equidade e igualdade social.

 
At 3:45 da tarde, Blogger Maria Ostra said...

Mais um "belo" paradoxo, portanto...

 
At 1:43 da manhã, Blogger botadeelastico said...

Mas o paradoxo é em relação à prostituta e ao coveiro, ao MIC MIC, ou à desconcertante concertação social (o da bola é irrelevante)!?

 
At 3:39 da tarde, Blogger Maria Ostra said...

O que lhe/te parece?

 

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